quarta-feira, 8 de abril de 2009

Se Hoje Eu Fosse Professora

Se hoje eu fosse professora chegaria com antecedência na sala de aula!

Arrumaria as carteiras diferentes dos últimos dias;

Verificaria no meu diário os conteúdos sobre a páscoa que faltaria aplicar;

Avaliaria os conteúdos já ensinados, considerando que há dias estaria abordando a referida temática com diversas atividades:conceito e história da páscoa, encontros vocálicos da palavra páscOA, os encontros consonantais da mesma palavra entre outras...os símbolos da páscoa, como se produz o chocolate, pesquisaríamos os valores de alguns chocolates faríamos comparação de preço e qualidade, receitas com chocolate. Tavez produziríamos ovos de páscoa na sala de aula (como já fizemos outrora)... muitas outras sugestões de atividades surgiriam num momento de reflexão na hora atividade e com apoio de materiais didáticos.

Se hoje eu fosse professora, eu não teria comprado, na semana passada, uma nova calça jeans, um CD da Fernanda Brum, talvez nem o livro "preparando sua filha para a batalha de toda mulher" da autora Shannon Ethridge. Com o dinheiro dessas compras e mais um pouco, eu compraria chocolates (bombons) da Garoto e/ou da nestlé para comemorar a páscoa com os "meus" Educandos(contrariaria o que preconiza a proposta de ensino da rede municipal sobre não enfatizar datas comemorativas, afinal, Karl Marx não valorizou a morte e ressurreição de Jesus. Na verdade, ele ridicularizou o acorrido).

Se hoje eu fosse professora, ouviria críticas por gastar "dinheiro do bolso" para comprar doces porque o prefeito é quem deveria comprar chocolate de boa qualidade! E, de novo eu fazendo o papel da família, do governo...

Que bobagem! Criança pobre só precisa de feijão e polenta, jamais chocolates!

Se hoje eu fosse professora, eu teria ouvido na sala dos professores, nos corredores, frases mais ou menos assim: "que saco,hoje meus alunos estão insuportáveis"!
"Ainda bem que vou ficar 3 dias longe desse inferno"!
"Não vejo a hora de me aposentar"!...

Se hoje eu fosse professora, teria visto crianças triste ao ser anunciado que ficariam 3 dias em casa. Ao ser questionadas se sentiriam saudade da professora, com inocente sinceridade alguém responderia: _Não, vou sentir fome! (No contexto em que eu seria professora, para muitas crianças o lanche da escola é a única refeição do dia).

Se hoje eu fosse professora, me atrasaria alguns minutos, talvez uns 5 ou 8 minutos para sair da sala ao término da aula, me apressaria pelos corredores, mas não encontraria mais meus colegas de profissão para desejar-lhes feliz páscoa!

Então, arrumaria meus apetrechos que teria levado de casa para que a aula fosse mais agradável (o governo deveria ter mandado materiais diversos e de boa qualidade, mas não chegou a tempo), olharia para os corredores já silenciosos, desejaria feliz páscoa e bom feriado para o "guardinha" que faria plantão até as 19 horas.

Ao sair no portão ouviria algumas crianças gritarem: até segunda professora!

Lançaria mais um olhar de compaixão e indignação para a favela, ali, anexo a escola, bem perto do centro, próximo a bairros nobres, ali, bem a margem da sociedade!

Se hoje eu fosse professora naquela escola que conheço muito bem, ao chegar em casa, as paredes mal pintadas não me pareceria tão feias!

Meu coração estaria mais agradecido porque na meia água em que moro, cada criança tem seu quarto com colchões e cobertores limpos e confortáveis!

Seria grata também porque só tem uma casa no meu quintal, a Sara e o Davi podem brincar na grama e na terra sem contemplar cenas de sexo, uso de drogas e brigas entre as gangs...
A alimentação da minha família já está garantida para os próximos dias!


Se hoje eu fosse professora, teria muito mais o que escrever!

2 comentários:

De cara limpa! disse...

Profissão dificil a nossa? Não! Profissão de quem ainda preza pelo bem estar do proximo, de qum preza pelo futuro da humanidade!
Hoje sou educadora, felismente (ou não) longe dessa realidade triste, e fui rever meus alunos do ano passado, aqueles que necessitavam de um chocolate (e um pouquinho de afeto) mais do que os atuais... Em alguns encontrei crescendo o amor que inicialmente eu semeei, em outros tal semente não foi cultivada, foi plantada sim, igualmente em todos, mas deixei-os aos cuidados de outro cultivador e infelizmente... Enfim, hoje vi os tais frutos e a saudade apertou fortemente mas maior foi a realização de ver o brilho daqueles olhinhos me chamando de PROFESSORA novamente ao dizer: "Eu sabia que você não ia se esquecer! Qualquer um podia esquecer, mas você não!"
Quem já foi educador uma vez, nunca o deixa de ser, independente se atua ou não!
Beijooo Cleo!

Francielle Cristiane Silva disse...

ufa!! lindo cleo!!