HÁ EXATAMENTE 20 ANOS, UM MÊS E 24 DIAS EU TE VI PELA PRIMEIRA VEZ!

Eu estava vivendo o fulgor dos meus 15 anos!
Você, o triplo e um pouco mais da minha idade! Instaurou-se o conflito de gerações!

Eu católica, você crente! Explodiu o conflito de religiões!
Você com sobrenome, pele, olhos e pensamentos de alemão; eu, pele morena, olhos escuro, bisneta de índia..., desengatilhou a guerra do racismo!

Eu, em busca de um futuro incerto, você carregando um passado amargo! Alaridos de diferenças!
Você se sentindo no direito de ditar suas regras! Eu no direito de viver a minha “liberdade”! Crises de identidade!

E foi em meio a encontros e desencontros, conflitos e incertezas que você me falou de Jesus, convidou-me, e pela primeira vez me adentrei em um templo evangélico!

Motivações erradas, mas ouvi a palavra! Mera obrigação sob os gritos de um cristão, eu fui ao templo mais uma vez...e mais uma...e outra...outras vezes!
Confesso que por vezes almejei olhar pra você como um pai, olhar para sua família como minha. Não! Era melhor permanecer sem um pai e com família ausente!
O teu modelo de cristão não me atraiu, suas palavras ásperas, palavras nada eruditas muito menos benditas me inspirava a fugir dessa vivência “cristã”!

Alguns anos depois...

Eu, noiva do seu filho? Inadmissível pra você! Não! Novamente, guerras de ofensas!
Finalmente, depois de anos de divergências um ponto final nessa história. Não tem problema! Tudo terminou bem, sem dúvida a vontade do nosso Deus prevaleceu!

E hoje...

Estou triste por te ver assim! A cor da sua pele não é como outrora! Teus olhos, ah teus lindos olhos claros, não são mais...!

A religião não te parece suficiente! NÃO, porque suficiente é só Jesus!

Gostaria de te perguntar tantas coisas! Que legado deixará para seus filhos e netos? Se pudesse voltar atrás, o que faria diferente? De que forma demonstraria seu amor? Como falaria de Jesus? Que exemplo daria? Como avalia os anos de sua vida?
Questionamentos como estes me faz olhar para dentro de mim! Que legado eu deixarei?...
Quando eu me for, como serei lembrada?...
Mais uma vez, não ... não ousaria te questionar, até porque, sei que você amou, do seu jeito, mas amou,...sei que me ama em Cristo! Como eu te disse, você ocupa um lugar especial em meu coração também!

Então te visito novamente, oro por você ...choro...
Nunca ousei te chamar de você, mas posso escrever assim, creio que dificilmente lerá! Não é por não te respeitar que aqui te chamo de você, mas é que a palavra “senhor” me parece muito formal para alguém que é especial!
Hoje eu te visitei novamente ...te ouvi...contemplei mais uma vez o teu carinho por mim, por meus filhos e por meu esposo. Você sentiu falta deste que não pode me acompanhar, pois está trabalhando...

Amanhã não é apenas a radioterapia que te aguarda, é também início da quimioterapia...!
A sua voz é quase incompreensiva, mas seu semblante está mais sereno que há uma semana!

Me despedi lhe afirmando que te visitarei, talvez na próxima semana, talvez eu te visitarei e falarei contigo novamente...

TALVEZ!